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terça-feira, 24 de maio de 2011

1808 - Laurentino Gomes


Em abril deste ano foram descobertas no Rio de Janeiro as ruínas do Cais do Valongo (veja notícia no blog aqui) e me lembrei que a primeira vez que li a respeito desse local foi no livro 1808 do jornalista Laurentino Gomes.

O livro é fruto de 10 anos de pesquisa e seu objetivo é resgatar e contar de forma acessível a história da vinda da família real portuguesa para o Brasil no ano de 1808, em fuga da invasão de Napoleão Bonaparte.

Foi a primeira vez que um soberado português cruzou o oceano para ir a uma de suas colônias e a transferência da corte portuguesa para o Brasil criou todo o contexto social e político que culminou com a proclamação da independência do Brasil em 1822.

É um livro bem interessante e recomendado para os interessados em saber um pouco mais sobre nossa história.

O livro vem acompanhado de um dvd, onde o próprio autor relata em meia hora e de forma bem acessível todo conteúdo da obra. Também é possível encontrar nas livrarias, a publicação de uma versão do livro ilustrada para o público juvenil.

Abaixo segue um trecho do livro que fala sobre o Valongo:

Capítulo 20 - A escravidão

Na cidade do Rio de Janeiro são muitos os monumentos e lugares históricos da época de D. João VI abandonados ou mal identificados, mas nada se compara ao que aconteceu com o Mercado do Valongo.

O maior entreposto negreiro das Américas sumiu do mapa sem deixar vestígios, como se jamais tivesse existido. Sua localização é ignorada nos mapas de ruas e nos guias turísticos. Situada entre os bairros da Gamboa, da Saúde e do Santo Cristo, a antiga Rua do Valongo até mudou de nome. Hoje chama-se Rua do Camerino. Ao final dela, em direção à Praia Mauá, uma ladeira chamada Morro do Valongo, sem nenhuma placa, monumento ou explicação, é a única referência geográfica que restou. 

É como se a cidade, de alguma forma, tentasse esquecer o velho mercado negreiro e a mancha que ele representa na história do Brasil. Esforço inútil, porque bem ali perto fica o Sambódromo, onde, em todo Carnaval, uma escola insiste em lembrar que a escravidão faz parte da memória dos cariocas e brasileiros.

Em 1996, a história do Valongo emergiu do subsolo de forma abrupta. Um casal de moradores da Rua Pedro Ernesto, 36, no bairro da Gamboa, decidiu fazer reformas na sua casa, construída no início do século XVIII. Durante as escavações, achou em meio ao entulho centenas de fragmentos de ossos misturados a cacos de cerâmica e vidro. 

Eram os vestígios do até então desconhecido cemitério dos Pretos Novos. Ali, duzentos anos atrás, se enterravam os escravos recém-chegados da África e mortos antes de serem vendidos. Até o começo de 2007, os arqueólogos haviam reunido 5563 fragmentos de ossos. Pertenciam a 28 corpos de jovens do sexo masculino, com idades entre 18 e 25 anos. Todos eles apresentavam sinais de cremação. 

O motivo é óbvio: no Rio de Janeiro de D. João VI só os brancos tinham o privilégio de serem sepultados em igrejas, próximos de Deus e do paraíso celeste, segundo se acreditava na época. Os escravos eram jogados em terrenos baldios ou valas comuns, nas quais se atirava fogo e, depois, uma camada de cal.

Quando a corte portuguesa chegou ao Brasil, navios negreiros vindos da costa da África despejavam no Mercado do Valongo entre 18000 e 22000 homens, mulheres e crianças por ano. Permaneciam em quarentena, para serem engordados e tratados das doenças. 

Quando adquiriam uma aparência mais saudável, eram comercializados da mesma maneira como hoje boiadeiros e pecuaristas negociam animais de corte no interior do Brasil. A diferença é que, em 1808, a “mercadoria” destinava-se a alimentar as minas de ouro e diamante, os engenhos de cana-de-açúcar e as lavouras de algodão, café, tabaco e outras culturas que sustentavam a economia brasileira.

Pesquisando na internet, encontrei no youtube o vídeo (dvd) que acompanha o livro:

Parte 01

Parte 02

Parte 03

Parte 04


Referência bibliográfica:
Gomes, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Planeta do Brasil, 2007

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